Este
é um resumo do livro “A Politica Da Loucura (A Antipsiquiatria)” do autor João
Francisco Duarte Junior, que foi publicado no ano de 1983.
Para
começar o livro inicia explicando a etimologia da palavra “Antipsiquiatria”,
sendo que o prefixo “Anti” significa “oposição de alguma coisa que se contrapõe
a outra”, que nesse caso seria a oposição a psiquiatria. O termo
antipsiquiatria surgiu com David Cooper, um psiquiatra sul-africano de
ascendência inglesa, que a partir dos estudos de outros especialistas e
juntamente com Ronald Laing, um psiquiatra inglês, passou a discordar dos
métodos tradicionais da psicologia e psiquiatria. Para os dois era como se os
métodos tradicionais não estudassem o indivíduo como um todo, mas só uma
pequena parcela do indivíduo.
O livro nos traz que a psiquiatria tradicional
tinha a loucura como uma doença que podia ser curada com eletrochoques,
internamento, psicoterapia e remédios. Algo que hoje já podemos ver que não é
real, eletrochoques podem causar complicações na saúde do indivíduo;
internamento não é uma boa opção já que a pessoa fica longe da família e
amigos, ela fica praticamente isolada do mundo o que causa uma piora; já a
psicoterapia não cuida, mas ajuda, porém acredito que não deva ser algo
imposto, pois assim a situação pode vim a piorar e por último, mas não menos
importante nesse tópico, a medicação ajuda, mas não cura, contudo acredito que
existe uma medicalização muito grande nos tempos atuais e para a época que o
livro foi escrito não duvido que tenha sido maior, as farmácias ganham muito
dinheiro com isso e muitos médicos e familiares preferem uma pessoa dopada por
ser mais fácil de “cuidar”. Por isso o livro nos mostra que os métodos usados
na psiquiatria até hoje (como medicamentos) só são usados por atender fatores
políticos e econômicos.
Na
ciência várias coisas podem ser objeto de estudo como microrganismos e a
natureza que sempre seguem um padrão, nós humanos também seguimos um padrão em
questão de funcionamento do organismo, porém em questão de comportamento somos
diferentes de todos os seres vivos, ou seja, não estamos presos a nossa
estrutura biológica. Humanos vivem de formas diferentes e isso tem relação com
sua cultura e individualidade. Eles não podem ser estudados pelas ciências
naturais, pois sempre estão mudando a forma de existir ao longo da história e
seus valores. Os seres humanos são livres e por isso não podemos prever
comportamentos como poderíamos com a natureza. Por exemplo, o CO2
(dióxido de carbono) é conhecido por ser um poluente, tanto no Brasil como na
China e Inglaterra, ou seja, ele não muda seu comportamento. Já o humano, não importa o país que ele
esteja, de que cultura veio e nem a sua situação econômica, ele sempre terá um
comportamento diferente do outro. A psicologia estuda um pouco os indivíduos e
generaliza eles sem muitas vezes procurar saber o contexto que a pessoa está
inserida. Os humanos podem ser estudados em sociedade, porém isso não define
que o comportamento que geralmente uma sociedade tem poderá ser de todo
indivíduo que ali está inserido. E é dai
que surge a questão “O que é normal?” “O que é aceitável?” “Quem é doente?”
isso vai depender do contexto, no contexto mundial um homem que mata uma pessoa
é criminoso, mas o Presidente da Rússia que está matando várias pessoas nesse
momento é considerado por muitos um homem que luta pela sua pátria e
provavelmente em livros Russos e de aliados será considerado um herói, enquanto
para outros países ele sempre será um monstro ou um doente. Por isso devemos
estudar o indivíduo isoladamente e em sociedade, para entender o que o leva a
tais atitudes.
A
primeira proposta da antipsiquiatria é a dessacralização da ciência, ou seja, é
mostrar que as correntes psicológicas podem ser quebradas, pois o humano não é
só cérebro e nunca entenderemos ele por completo, é preciso tentar entender o
indivíduo como um todo dentro do contexto de vida dele.
Nós
não somos seres feitos só de razão, mas também de emoção. Tudo que conhecemos e
entendemos ocorre principalmente pela emoção, o fato de gostarmos ou nos
interessarmos por algo vem dessa emoção que trará prazer para aprender. Nossas
emoções são de difícil explicação por isso nós seres humanos criamos a arte,
nós conseguimos colocar sentimentos de felicidade ou tristeza e até medo em
esculturas, pinturas e músicas. Por exemplo, os quadros de Vincent van Gogh,
provavelmente para ele transmitiam algo, essa era a forma que ele tinha para
expressar suas dores, angustias e felicidades. Mas também podemos usar a
religião para expressar as emoções, muitos vão a igreja pela fé e lá encontram
conforto, felicidade e paz em momentos difíceis.
O
psicoterapeuta precisa entender os sentimentos que se encontra no indivíduo,
ele precisa ir além da palavra, sentir o que o outro sente. O psicoterapeuta
não deve ser um profissional neutro, pois deve haver uma relação humana para um
bom atendimento, precisa haver uma troca, o cliente precisa se sentir bem com a
pessoa que irá atende-lo, caso isso não ocorra a psicoterapia não terá evolução
e o cliente vai abandonar as consultas.
Política
na antipsiquiatria diz respeito ao poder que a família, instituições sociais,
sindicatos e partidos tem sobre os outros. Nesse caso se dá um poder ao
especialista em transtornos mentais de julgar se uma pessoa é
"normal" ou "anormal", "sadio" ou
"doente" o que dá um falso direito de encarcerar o indivíduo numa
instituição com o suposto objetivo de "curar" a pessoa. A loucura vai
muito do que o outro interpreta que seja o “adequado”. Muitas vezes os seres
humanos preferem isolar o "louco" observar suas ações e julga-las.
Vou
dá um exemplo:
Temos
2 situações reais
· A
situação 1 um homem vai normalmente ao shopping sozinho, ganha mesada do pai,
sai com os amigos, foi muito querido pelas professoras e é muito simpático, ele
tem uma sobrinha e se preocupa com ela e com as irmãs dele.
· A
situação 2 um homem tem dia que acorda agitado ouvindo vozes, xinga as pessoas,
grita a noite toda e agride qualquer pessoa.
Quem
seria o esquizofrênico paranoide e quem é o normal? Muitos diriam que o 1 é o
normal e o 2 é o doente, porém a pessoa da situação 1 e a pessoa da situação 2
são a mesma pessoa só que em momentos diferentes da vida. As pessoas julgam só
por ter visto algo que para elas não é comum, qualquer pessoa pode ser
considerada louca se a encontrarmos em um momento que para nós ela está sendo
“anormal”. A loucura não passa de um rotulo para segregar.
A
esquizofrenia vem do grego e significa “mente partida” ou “mente dividida”.
Esse é um rótulo que colocamos em pessoas que perderam o contato com a
realidade e se isolaram do mundo. A esquizofrenia é a patologia modelo da
antipsiquiatria, pois a maioria dos psicóticos são classificados como
esquizofrênicos isso porque a pessoa possui uma grande quantidade de sintomas
que se enquadram na esquizofrenia. Essa doença não tem suas causas definidas,
mas de acordo com o livro é importante salientar que ela não se contrai por uma
certa razão. De acordo com o livro quando a pessoa muda o comportamento e passa
a fazer coisas estranhas, isto não é um sintoma de uma doença mas sim uma
situação patológica que ele está inserido, ou seja, a doença não se encontra
nas pessoas mas sim em suas relações afetivas.
A
família inicialmente é quem dita as regras e é de lá que aprendemos o que é
certo e errado, normal e anormal, além da moral. Com isso muitos filhos seguem
o que é dito pelos pais com medo de perder o amor, proteção e carinho, por
outro lado sentem que podem perder a chance de viverem e de se realizarem,
fazendo se instalar o núcleo do conflito, mas isso não é claro para esse
indivíduo, pois ele se sente confuso. O sentimento de culpa é o principal meio
de controle familiar, o tempo todo os pais cobram dos filhos e se eles não
cumprem o desejado, o filho passa a se sentir culpado o que gera mais
conflitos. Laing e Cooper criaram a Teoria de duplo vínculo que para eles é um
meio caminho para esquizofrenia, visto uma vez que os pais falam uma coisa e
agem de outra forma o que faz com que o filho se sinta confuso com si, eles
pensam "o que eles querem realmente de mim?" Ex: um dia a criança faz
"arte" e o pai ri, no outro dia o pai chega em casa estressado a
criança faz a mesma "arte" e o pai bate nele.
Com
isso a crítica da antipsiquiatria vai para o fato dos psiquiatras só olharem o indivíduo
e não também a família que é onde o indivíduo é constituído. Com isso o ponto
central de estudo vai para o sistema familiar. Pois a família tem um poder
enorme sobre um indivíduo, pais e mães tem o direito de ditar regras que muitas
vezes não serão bem vistas pelos filhos. Na família surge o que é chamado de “Sistema
do falso eu” que é um processo que o indivíduo passa onde ele faz o que as
pessoas querem e esperam dele para ser visto como "um bom filho",
pois ele possui medo de sofrer punições. O que mantém nossa sanidade mental
muitas vezes é o tratar de nossa família, uma família que dá liberdade para o
filho ser quem é e dar espaço para compreensão faz com que o filho se sinta
bem. Porém onde há um membro esquizofrênico, o sistema passa a ser mais
opressor, a família passa a exigir o "falso eu" para que o indivíduo
se enquadre no "normal", fazendo com que ele deixe de fazer o que gosta
e entre em conflito com si próprio em proporções insuportáveis. E com isso
surge os primeiros "sintomas" que geram os tais comportamentos
estranhos, que para Laing e Cooper, são formas de protesto cheios de
contradições e não admitido abertamente pelos outros e pelo próprio indivíduo.
Como os pais não querem admitir que os filhos estão se opondo, eles preferem
dizer que os filhos não possuem sanidade do que dizer que é um mau filho, é a
forma que os pais arranjam para justificar as ações dos filhos que a sociedade
tanto vai criticar. As vozes que um esquizofrênico ouve pode ser considerado
algo que ele viveu, por exemplo: coisas que os pais diziam e até mesmo impôs.
No
livro se fala que a antipsiquiatria não descarta o envolvimento de problemas físicos
com a esquizofrenia e que é de conhecimento de todos que problemas orgânicos
geram problemas mentais que devem ser diagnosticados e terem uma intervenção
medicamentosa. Ou seja, em momento nenhum a antipsiquiatria descarta os
problemas orgânicos, mas também dá a ênfase de que problemas do dia a dia podem
trazer problemas a saúde. Segundo Cooper, desde o nascimento vamos aprendendo e
em um certo momento caminhamos para o que é considerado sadio ou doente,
normalmente os "sadios" terminam entendendo como funciona a sociedade
e com isso conseguem driblar esse jogo de papéis sociais, mas sem aceitar o que
a sociedade diz como verdade única.
A
pessoa esquizofrênica quando tem crises psicóticas entram em um tipo de viagem
que a leva para a desestruturação das coisas do cotidiano, esse é o
"processo natural de cura". Ou seja, nesse momento o indivíduo passa
a ser ele mesmo sem precisar seguir as regras da sociedade e assim se sente
livre, mas isso acaba de forma desastrosa porque terceiros interferem e não
deixam o indivíduo experienciar o que tanto quer e o traz para esse mundo que
para ele é insuportável de si viver. O psicoterapeuta é visto como uma ameaça
já que ele sempre tenta levar o indivíduo a "realidade" e para o
indivíduo que não é considerado “normal” o psicoterapeuta faz o que a família
manda, além de que faz procedimentos violentos como drogas, choque e
internação, tudo com o suposto objetivo de traze-lo de volta. Por isso para
Laing e Cooper a psiquiatria tradicional só piora a situação do indivíduo.
Para
a corrente antipsiquiatrica a psiquiatria é uma ação repressora que condena
aqueles que não se adaptam as regras da sociedade e o hospício é equivalente a
cadeia já que para muitos, esses indivíduos não possuem utilidade. No livro é
citado que a psiquiatria surgiu na era industrial e tinha como objetivo de separar
as pessoas por categorias para que elas trabalhassem, eram três categorias:
desempregados, criminosos e loucos. A primeira categoria foi aproveitada e as
duas últimas foram isoladas.
Referencia:
JUNIOR,
João Francisco Duarte. A Politica Da Loucura (A Antipsiquiatria). 1ª
Edição. Campinas-SP. Editora: Papirus, 1983.