04 novembro 2022

Resumo do Livro “A Politica Da Loucura (A Antipsiquiatria)”

 

Este é um resumo do livro “A Politica Da Loucura (A Antipsiquiatria)” do autor João Francisco Duarte Junior, que foi publicado no ano de 1983.

Para começar o livro inicia explicando a etimologia da palavra “Antipsiquiatria”, sendo que o prefixo “Anti” significa “oposição de alguma coisa que se contrapõe a outra”, que nesse caso seria a oposição a psiquiatria. O termo antipsiquiatria surgiu com David Cooper, um psiquiatra sul-africano de ascendência inglesa, que a partir dos estudos de outros especialistas e juntamente com Ronald Laing, um psiquiatra inglês, passou a discordar dos métodos tradicionais da psicologia e psiquiatria. Para os dois era como se os métodos tradicionais não estudassem o indivíduo como um todo, mas só uma pequena parcela do indivíduo.

 O livro nos traz que a psiquiatria tradicional tinha a loucura como uma doença que podia ser curada com eletrochoques, internamento, psicoterapia e remédios. Algo que hoje já podemos ver que não é real, eletrochoques podem causar complicações na saúde do indivíduo; internamento não é uma boa opção já que a pessoa fica longe da família e amigos, ela fica praticamente isolada do mundo o que causa uma piora; já a psicoterapia não cuida, mas ajuda, porém acredito que não deva ser algo imposto, pois assim a situação pode vim a piorar e por último, mas não menos importante nesse tópico, a medicação ajuda, mas não cura, contudo acredito que existe uma medicalização muito grande nos tempos atuais e para a época que o livro foi escrito não duvido que tenha sido maior, as farmácias ganham muito dinheiro com isso e muitos médicos e familiares preferem uma pessoa dopada por ser mais fácil de “cuidar”. Por isso o livro nos mostra que os métodos usados na psiquiatria até hoje (como medicamentos) só são usados por atender fatores políticos e econômicos.

Na ciência várias coisas podem ser objeto de estudo como microrganismos e a natureza que sempre seguem um padrão, nós humanos também seguimos um padrão em questão de funcionamento do organismo, porém em questão de comportamento somos diferentes de todos os seres vivos, ou seja, não estamos presos a nossa estrutura biológica. Humanos vivem de formas diferentes e isso tem relação com sua cultura e individualidade. Eles não podem ser estudados pelas ciências naturais, pois sempre estão mudando a forma de existir ao longo da história e seus valores. Os seres humanos são livres e por isso não podemos prever comportamentos como poderíamos com a natureza. Por exemplo, o CO2 (dióxido de carbono) é conhecido por ser um poluente, tanto no Brasil como na China e Inglaterra, ou seja, ele não muda seu comportamento.  Já o humano, não importa o país que ele esteja, de que cultura veio e nem a sua situação econômica, ele sempre terá um comportamento diferente do outro. A psicologia estuda um pouco os indivíduos e generaliza eles sem muitas vezes procurar saber o contexto que a pessoa está inserida. Os humanos podem ser estudados em sociedade, porém isso não define que o comportamento que geralmente uma sociedade tem poderá ser de todo indivíduo que ali está inserido.  E é dai que surge a questão “O que é normal?” “O que é aceitável?” “Quem é doente?” isso vai depender do contexto, no contexto mundial um homem que mata uma pessoa é criminoso, mas o Presidente da Rússia que está matando várias pessoas nesse momento é considerado por muitos um homem que luta pela sua pátria e provavelmente em livros Russos e de aliados será considerado um herói, enquanto para outros países ele sempre será um monstro ou um doente. Por isso devemos estudar o indivíduo isoladamente e em sociedade, para entender o que o leva a tais atitudes.

A primeira proposta da antipsiquiatria é a dessacralização da ciência, ou seja, é mostrar que as correntes psicológicas podem ser quebradas, pois o humano não é só cérebro e nunca entenderemos ele por completo, é preciso tentar entender o indivíduo como um todo dentro do contexto de vida dele.

Nós não somos seres feitos só de razão, mas também de emoção. Tudo que conhecemos e entendemos ocorre principalmente pela emoção, o fato de gostarmos ou nos interessarmos por algo vem dessa emoção que trará prazer para aprender. Nossas emoções são de difícil explicação por isso nós seres humanos criamos a arte, nós conseguimos colocar sentimentos de felicidade ou tristeza e até medo em esculturas, pinturas e músicas. Por exemplo, os quadros de Vincent van Gogh, provavelmente para ele transmitiam algo, essa era a forma que ele tinha para expressar suas dores, angustias e felicidades. Mas também podemos usar a religião para expressar as emoções, muitos vão a igreja pela fé e lá encontram conforto, felicidade e paz em momentos difíceis.

O psicoterapeuta precisa entender os sentimentos que se encontra no indivíduo, ele precisa ir além da palavra, sentir o que o outro sente. O psicoterapeuta não deve ser um profissional neutro, pois deve haver uma relação humana para um bom atendimento, precisa haver uma troca, o cliente precisa se sentir bem com a pessoa que irá atende-lo, caso isso não ocorra a psicoterapia não terá evolução e o  cliente vai abandonar as consultas.

Política na antipsiquiatria diz respeito ao poder que a família, instituições sociais, sindicatos e partidos tem sobre os outros. Nesse caso se dá um poder ao especialista em transtornos mentais de julgar se uma pessoa é "normal" ou "anormal", "sadio" ou "doente" o que dá um falso direito de encarcerar o indivíduo numa instituição com o suposto objetivo de "curar" a pessoa. A loucura vai muito do que o outro interpreta que seja o “adequado”. Muitas vezes os seres humanos preferem isolar o "louco" observar suas ações e julga-las.

Vou dá um exemplo:

Temos 2 situações reais

·       A situação 1 um homem vai normalmente ao shopping sozinho, ganha mesada do pai, sai com os amigos, foi muito querido pelas professoras e é muito simpático, ele tem uma sobrinha e se preocupa com ela e com as irmãs dele.

·       A situação 2 um homem tem dia que acorda agitado ouvindo vozes, xinga as pessoas, grita a noite toda e agride qualquer pessoa.

Quem seria o esquizofrênico paranoide e quem é o normal? Muitos diriam que o 1 é o normal e o 2 é o doente, porém a pessoa da situação 1 e a pessoa da situação 2 são a mesma pessoa só que em momentos diferentes da vida. As pessoas julgam só por ter visto algo que para elas não é comum, qualquer pessoa pode ser considerada louca se a encontrarmos em um momento que para nós ela está sendo “anormal”. A loucura não passa de um rotulo para segregar.

A esquizofrenia vem do grego e significa “mente partida” ou “mente dividida”. Esse é um rótulo que colocamos em pessoas que perderam o contato com a realidade e se isolaram do mundo. A esquizofrenia é a patologia modelo da antipsiquiatria, pois a maioria dos psicóticos são classificados como esquizofrênicos isso porque a pessoa possui uma grande quantidade de sintomas que se enquadram na esquizofrenia. Essa doença não tem suas causas definidas, mas de acordo com o livro é importante salientar que ela não se contrai por uma certa razão. De acordo com o livro quando a pessoa muda o comportamento e passa a fazer coisas estranhas, isto não é um sintoma de uma doença mas sim uma situação patológica que ele está inserido, ou seja, a doença não se encontra nas pessoas mas sim em suas relações afetivas.

A família inicialmente é quem dita as regras e é de lá que aprendemos o que é certo e errado, normal e anormal, além da moral. Com isso muitos filhos seguem o que é dito pelos pais com medo de perder o amor, proteção e carinho, por outro lado sentem que podem perder a chance de viverem e de se realizarem, fazendo se instalar o núcleo do conflito, mas isso não é claro para esse indivíduo, pois ele se sente confuso. O sentimento de culpa é o principal meio de controle familiar, o tempo todo os pais cobram dos filhos e se eles não cumprem o desejado, o filho passa a se sentir culpado o que gera mais conflitos. Laing e Cooper criaram a Teoria de duplo vínculo que para eles é um meio caminho para esquizofrenia, visto uma vez que os pais falam uma coisa e agem de outra forma o que faz com que o filho se sinta confuso com si, eles pensam "o que eles querem realmente de mim?" Ex: um dia a criança faz "arte" e o pai ri, no outro dia o pai chega em casa estressado a criança faz a mesma "arte" e o pai bate nele.

Com isso a crítica da antipsiquiatria vai para o fato dos psiquiatras só olharem o indivíduo e não também a família que é onde o indivíduo é constituído. Com isso o ponto central de estudo vai para o sistema familiar. Pois a família tem um poder enorme sobre um indivíduo, pais e mães tem o direito de ditar regras que muitas vezes não serão bem vistas pelos filhos. Na família surge o que é chamado de “Sistema do falso eu” que é um processo que o indivíduo passa onde ele faz o que as pessoas querem e esperam dele para ser visto como "um bom filho", pois ele possui medo de sofrer punições. O que mantém nossa sanidade mental muitas vezes é o tratar de nossa família, uma família que dá liberdade para o filho ser quem é e dar espaço para compreensão faz com que o filho se sinta bem. Porém onde há um membro esquizofrênico, o sistema passa a ser mais opressor, a família passa a exigir o "falso eu" para que o indivíduo se enquadre no "normal", fazendo com que ele deixe de fazer o que gosta e entre em conflito com si próprio em proporções insuportáveis. E com isso surge os primeiros "sintomas" que geram os tais comportamentos estranhos, que para Laing e Cooper, são formas de protesto cheios de contradições e não admitido abertamente pelos outros e pelo próprio indivíduo. Como os pais não querem admitir que os filhos estão se opondo, eles preferem dizer que os filhos não possuem sanidade do que dizer que é um mau filho, é a forma que os pais arranjam para justificar as ações dos filhos que a sociedade tanto vai criticar. As vozes que um esquizofrênico ouve pode ser considerado algo que ele viveu, por exemplo: coisas que os pais diziam e até mesmo impôs.

No livro se fala que a antipsiquiatria não descarta o envolvimento de problemas físicos com a esquizofrenia e que é de conhecimento de todos que problemas orgânicos geram problemas mentais que devem ser diagnosticados e terem uma intervenção medicamentosa. Ou seja, em momento nenhum a antipsiquiatria descarta os problemas orgânicos, mas também dá a ênfase de que problemas do dia a dia podem trazer problemas a saúde. Segundo Cooper, desde o nascimento vamos aprendendo e em um certo momento caminhamos para o que é considerado sadio ou doente, normalmente os "sadios" terminam entendendo como funciona a sociedade e com isso conseguem driblar esse jogo de papéis sociais, mas sem aceitar o que a sociedade diz como verdade única.

A pessoa esquizofrênica quando tem crises psicóticas entram em um tipo de viagem que a leva para a desestruturação das coisas do cotidiano, esse é o "processo natural de cura". Ou seja, nesse momento o indivíduo passa a ser ele mesmo sem precisar seguir as regras da sociedade e assim se sente livre, mas isso acaba de forma desastrosa porque terceiros interferem e não deixam o indivíduo experienciar o que tanto quer e o traz para esse mundo que para ele é insuportável de si viver. O psicoterapeuta é visto como uma ameaça já que ele sempre tenta levar o indivíduo a "realidade" e para o indivíduo que não é considerado “normal” o psicoterapeuta faz o que a família manda, além de que faz procedimentos violentos como drogas, choque e internação, tudo com o suposto objetivo de traze-lo de volta. Por isso para Laing e Cooper a psiquiatria tradicional só piora a situação do indivíduo.

Para a corrente antipsiquiatrica a psiquiatria é uma ação repressora que condena aqueles que não se adaptam as regras da sociedade e o hospício é equivalente a cadeia já que para muitos, esses indivíduos não possuem utilidade. No livro é citado que a psiquiatria surgiu na era industrial e tinha como objetivo de separar as pessoas por categorias para que elas trabalhassem, eram três categorias: desempregados, criminosos e loucos. A primeira categoria foi aproveitada e as duas últimas foram isoladas.

 

 

 

 

 

 

 

 

Referencia:

JUNIOR, João Francisco Duarte. A Politica Da Loucura (A Antipsiquiatria). 1ª Edição. Campinas-SP. Editora: Papirus, 1983.

 

 

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