24 maio 2023

Automutilação/Autolesão

 Introdução

Pessoas que se lesionam para evitar a dor emocional, obviamente estão passando por problemas muito sérios, podemos ver isso segundo o site do Hospital Santa Mônica (2018), "a automutilação é vista como uma válvula de escape nada saudável para indivíduos lidando com situações em que a dor psicológica e emocional necessita ser aliviada de alguma forma."

Infelizmente, essas lesões feitas muitas vezes são de difícil identificação. Muitas pessoas possuem táticas para esconder as marcas, um exemplo é usar roupas longas como moletons ou mutilar lugares que não são fáceis de serem vistos. Porém, existem indícios como o isolamento social, impulsividade, irritabilidade, autocrítica exacerbada, transtorno alimentar e pouca higiene pessoal.

De acordo com o Hospital Santa Mônica (2018) "A automutilação é definida por lesões provocadas nos próprios tecidos do corpo de forma deliberada, ou seja, propositalmente. A prática é mais comum entre jovens e adolescentes, e geralmente se manifesta na puberdade e fase adulta." Essas lesões podem ser feitas por cortes, mordidas, se bater em paredes, queimaduras, beliscões e etc. A Automutilação pode ocorrer como sintoma de transtornos como Autismo e Demência em idosos. Já para Moreira et al. (2020) a Automutilação também pode ser quando a pessoa "salta de locais relativamente altos, ingere fármacos em doses superiores as posologias terapêuticas, faz uso de drogas ilícitas ou substâncias psicoativas com propósito de autoagressão e ingestão de substâncias ou objetos não ingeríveis." Segundo Dinelli (2020) "A automutilação pode ser uma maneira de lidar com os problemas. Pode ajudá-lo(a) a expressar sentimentos que você não pode expressar em palavras, distraí-lo(a) de sua vida ou liberar a dor emocional."

A Automutilação muitas vezes é o que as pessoas usam para aliviar sentimentos como tristeza, auto aversão, sentimento de vazio, culpa, raiva, frustração, tédio, inutilidade, desespero e desesperança.

  Tipos de Automutilação

Existem dois tipos de Automutilação: A automutilação com pretensão final de suicídio e automutilação sem ideação suicida.

A Automutilação com ideação suicida: é quando a pessoa realmente está em busca da morte, pois tem uma percepção de que isso resolverá todos os problemas. Para saber a frequência das ideias de Automutilação com ideação suicida, é necessário ver o histórico clínico de cada indivíduo, porque dependendo dos meios utilizados pode ocorrer um maior potencial da pessoa entrar em óbito. Conforme o Hospital Santa Mônica (2018), "os atos mais comuns são enforcamento, envenenamento, jogar-se de grandes alturas ou atirar-se na frente de veículos em alta velocidade."

A Automutilação sem ideação suicida: Aqui a pessoa se automutila, mas não tem o propósito de cometer o ato suicida. Conforme o Hospital Santa Mônica (2018) "As autoagressões mais comuns acontecem por meio de cortes, queimaduras e arranhões na pele e mordidas na parte inferior da boca ou membros superiores. Além disso, algumas pessoas têm o hábito de bater a cabeça na parede ou esmurrar a si mesmas." Já de acordo com Christine Moutier [S.I], mesmo que a pessoa não demonstre ideação suicida, devemos observar, pois o tema é muito delicado e elas possuem uma propensão de cometer o ato.

 Esse tipo de Automutilação é mais comum na adolescência e entre as meninas, também muito comum em pessoas com transtornos como o Transtorno de Personalidade Limítrofe, Transtorno de Personalidade Antissocial, Transtorno Alimentar, Transtorno por uso de substâncias (como álcool, drogas ilícitas) e Transtorno do Espectro Autista.

De qualquer forma, se a intenção é suicida ou não, é nítido que o indivíduo que comete a Automutilação está passando por algum problema muito grave e precisa de um acompanhamento adequado. Fatores como sentimentos negativos, brigas familiares, depressão, ansiedade, bulimia, anorexia, abuso na infância, bullying e outros, são situações que levam as pessoas a se ferirem com o objetivo de aliviar o sofrimento que está sentindo. O sofrimento pode até aliviar na hora, mas depois os sentimentos voltam e as marcas físicas ficam.

Por que tantas pessoas praticam a Automutilação?

Existe algum fator real que faz a Automutilação aliviar a dor dos sentimentos?  Sim, ao cometer a autoagressão, o organismo libera endorfinas cerebrais (substâncias consideradas analgésicos naturais) e produzem a sensação de prazer e alívio temporário (HOSPITAL SANTA MÔNICA, 2018). Mas depois que essa sensação passa, tudo volta a se agravar, as vezes até piora o sentimento que já existia.

Como ajudar?

O primeiro passo é criar um ambiente acolhedor, onde a pessoa sentirá que não será julgada e mostrar a ela que a Automutilação não é a melhor solução para se resolver os problemas e assim ela se sentirá mais segura e confiantes para lidar com as situações do dia a dia.

Em concordância com o Hospital Santa Mônica (2018) "uma grande aliada do tratamento é a terapia cognitivo-comportamental, que permite identificar e tratar os motivos que levam a essa prática. Desse modo, o apoio profissional auxilia a pessoa a ser capaz de descobrir alternativas saudáveis para resolver suas perturbações. Dependendo do caso, medicamentos também podem ajudar a diminuir ou cessar os episódios de autolesão."

De acordo com Christine Moutier [S.I], é importante ressaltar que muitas pessoas que fazem a Automutilação não consideram a situação um problema e evitam procurar ajuda especializada.

Como é feito o diagnóstico?

Avaliação médica: o médico examinará o paciente com o intuito de achar marcas que sejam sinais de Automutilação.

Ainda é possível o médico avaliar se a intenção do paciente era de ideação suicida ou não, segundo Christiane Moutier [S.I] "o médico avalia a intenção, os motivos e o humor da pessoa. É possível que uma pessoa que realiza automutilação não suicida declare que deseja se automutilar para obter alívio de sentimentos negativos em vez de declarar que tem vontade de se matar. Ou ela pode usar repetidamente métodos que pouco provavelmente resultariam em morte." Por isso, para ter um bom diagnóstico é preciso conversar com familiares para saber como é o dia a dia do paciente.

O médico durante a consulta pode perguntar:

1.     De que modo a pessoa pratica a automutilação e de quantas maneiras diferentes ela o faz (por exemplo, ela se queima ou se corta?)

2.     Com que frequência ela pratica a automutilação

3.     Há quanto tempo ela vem praticando a automutilação

4.     Qual é a finalidade de ela praticar a automutilação

5.     Quão disposta ela está de participar do tratamento

O médico também pode investigar se a pessoa possui outros Transtornos Mentais e assim ver a probabilidade de ocorrer o suicídio.

Qual o tratamento?

Psicoterapia para a Automutilação e para outros Transtornos que a pessoa tiver. E medicamentos que forem prescritos.

Alguns tipos de psicoterapias são consideradas melhores para o tratamento da Automutilação. São exemplos a Terapia Comportamental Dialética e a Terapia de Regulação Emocional em Grupo (CHRISTIANE MOUTIER, [S.I]).

Na terapia comportamental dialética se oferece sessões semanais individuais e em grupo durante um ano, o terapeuta fica disponível 24 horas por dia por telefone. O objetivo é auxiliar a pessoa a lidar de melhor maneira com o estresse.

Na terapia de regulação emocional, ocorre terapias de 14 semanas em grupo. Ela ajuda a pessoa a criar mais conscientização, compreender e aceitar suas emoções. Esta terapia ajuda a pessoa a lidar com as emoções negativas e entender que essas emoções fazem parte da vida e que ninguém é feliz o tempo todo.

Não existe nenhum medicamento aprovado para o tratamento da automutilação não suicida. Contudo, a naltrexona e alguns medicamentos antipsicóticos atípicos demonstraram ser eficazes para algumas pessoas (CHRISTIANE MOUTIER, [S.I]).

Dados no Brasil

Segundo Pinheiro, Warmling e Coelho, (2021) "No Brasil, a taxa de internação de indivíduos com nove anos ou mais de idade e que tentaram suicídio, foi de 5,6 para cada 100 mil habitantes, entre 2000 e 2013. O VIVA-Inquérito - pesquisa de 2014, em serviços de saúde sentinelas de urgência/emergência de capitais e municípios brasileiros, para levantar informações sobre vítimas de violências - registrou 477 (9,5%) atendimentos decorrentes de violências autoprovocadas, das quais 18 (2,9%) cometidas por crianças, 94 (18,8%) por adolescentes, 348 (74,6%) por adultos e 16 (3,7%) por idosos. No Brasil, estudo de coorte com pessoas atendidas em ambulatório de psiquiatria, publicado em 2016, revelou que, dos indivíduos com comportamento de automutilação, 30% apresentavam idade inferior a 18 anos e 85% eram do sexo feminino." Mesmo os dados de Automutilação serem inferiores a 10% isso se torna um fator preocupante, pois só 74,6% eram adultos e 21,7% menores de 18 anos de acordo com o ano de 2014, em 2016 subiu 8,3% para menores de 18 anos, ou seja, a Automutilação está com uma tendência a subir e por isso deve ser um assunto de saúde pública ou vamos esperar subir mais 30% para ser um fator de alerta e de observação? Sinais essas pessoas dão, mas muitas vezes não observamos ou ignoramos. A Automutilação, como já foi mencionada, é um fator preocupante para o suicídio mesmo que a intenção de início não seja essa. Suponhamos, que uma pessoa se corta com facas e em algum momento acerta uma artéria ou veia, se ela não tiver alguém próximo para socorrer ela irá a óbito.

Em adolescentes, a Automutilação está associada a  problemas familiares e na escola, já nos adultos, está associado com história de abuso na infância, transtornos de ansiedade, transtorno depressivo maior, agressividade e impulsividade (PINHEIRO, WARMLING e COELHO,2021). Podemos ver que a Automutilação está associada a motivos de estresse e traumas que ocorreram ou ainda ocorrem na vida dessas pessoas.

Método

Para Moreira et al. (2020) a Automutilação não é feita somente nos braços e se for feita em outros locais do corpo isso indica que há uma patologia muito séria envolvida. Com isso, os prováveis lugares para serem feitos são partes do corpo que se pode cobrir com roupas.

Função

Segundo Moreira et al. (2020), "as funções da automutilação mais adotadas pelos adolescentes são as de Reforço Automático positivo (sentir alguma coisa, gerar sentimentos) e Reforço Automático Negativo (regular emoções negativas, como raiva, angústia, medo)". Ou seja, aliviar o sentimento ruim (reforço automático negativo) e gerar mais dor (reforço automático positivo).

Fatores de risco

Pertencer ao sexo feminino, abuso físico e sexual, Bullying, consumo excessivo de álcool e drogas, término de relacionamento, baixa qualidade de relacionamento com a mãe, falta de apoio familiar, conhecer outra pessoa que se automutila, sono pobre, sintomas de impulsividade, baixa autoestima, baixo nível socioeconômico, autocrítica, dificuldade de resolução de problemas, não possuir identificação religiosa ou espiritual, baixa escolaridade, possuir identidade alternativa, apresentar problemas com a lei e dificuldade de expressar emoções (MOREIRA ET AL., 2020).

Ainda conforme Moreira et al. (2020), "alguns estudos investigam a neurobiologia da automutilação. Um achado importante indica que o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal dos adolescentes com automutilação é hiporresponsivo, portanto, a secreção de cortisol é reduzida e pode desempenhar fator de vulnerabilidade desses indivíduos no estresse agudo."

A influência das mídias sociais e a Automutilação

Assim como nossos livros, nossos veículos, nossas cidades, a tecnologia digital, mais precisamente os ambientes de interação eletrônicos, são partes de nossa cultura, são nossas mídias que ajudam a moldar o modo como interagimos e pensamos (BAUDRILLARD, 1991; JOHNSON, 2001, apud CAVALCANTE, 2015, p. 176). Sendo assim, podemos ter como exemplos contas do twitter e Facebook que mostram histórias conturbadas que podem influenciar outras pessoas a cometerem atos de Automutilação e de mostrarem sua dor. E normalmente nessas contas, as pessoas tendem a contar histórias de violência sofrida, isolamento, fim de relacionamentos e problemas familiares, e assim encontram outras pessoas que passam o mesmo que elas ou encontram pessoas para falar coisas mais negativas e piorar a situação emocional que já está existente.

Por isso, para menores seria indicado que os pais ou responsáveis sempre estivessem monitorando as redes sociais desses jovens. Para adultos, o indicado seria diminuir o tempo nessas redes sociais e consumir outros conteúdos que sejam mais construtivos.

Como parar com a automutilação

1. Confie em alguém

Falar sobre si pode ser um ato muito difícil, por isso escolha alguém confiável para pedir ajuda. Fale sobre seus sentimentos e porque você está contando isso a ela, pode ser difícil para a pessoa digerir tudo que está acontecendo, por isso dê tempo a ela.

2. Identifique seus gatilhos

Tente descobrir o que te leva a se automutilar, com isso você poderá aprender métodos para lidar com a situação e não continuar se automutilando. Se você não conseguir identificar você pode pedir ajuda para alguém de sua confiança.

3. Encontre novas técnicas de enfrentamento

Se você vai parar, você precisa ter formas alternativas de enfrentamento para reagir de maneira diferente quando estiver com vontade de se cortar ou se machucar.

Se você se machuca para expressar dor e emoções intensas, você pode:

·       Pintar;

·       Desenhar ou rabiscar em um grande pedaço de papel com tinta vermelha;

·       Escrever em um diário para expressar seus sentimentos;

·       Compor um poema ou uma canção para dizer o que sente;

·       Anotar qualquer sentimento negativo e depois rasgar o papel;

·       Ouvir uma música.

Se você se machuca para acalmar ou aliviar-se a si mesmo, você pode:

·       Tomar um banho frio ou um banho quente;

·       Abraçar um  pet, ou ursinho de pelúcia;

·       Usar um cobertor quente;

·       Massagear seu pescoço, mãos e pés;

·       Ouvir uma música calma;

·       Meditar.

 

Se você se machuca porque se sente desconectado(a) ou entorpecido(a), você pode:

·       Ligar para um amigo (você não precisa falar sobre a automutilação);

·       Tomar um banho frio;

·       Segurar um cubo de gelo na dobra do seu braço ou perna;

·       Mastigar algo com um sabor muito forte, como pimenta, hortelã, gengibre ou uma casca de laranja;

Se você se machuca para liberar a tensão ou a raiva, você pode:

·       Correr;

·       Dançar;

·       Pular corda ou bater em um saco de pancadas;

·       Gritar em uma almofada ou colchão ou gritar em seu travesseiro;

·       Rasgar algo (folhas de papel, uma revista);

·       Fazer algum barulho (toque um instrumento, bata em panelas e frigideiras).

 

Como ajudar uma pessoa que está se automutilando

Para poder ajudar é importante saber fazer 3 coisas básicas: saber perguntar, saber como perguntar e saber em que momento perguntar. Mas é muito importante não mencionar nenhum método de suicídio. Também é muito importante saber o nível de risco (baixo, médio ou alto).

 

 

 

Referências:

CAVALCANTE, João Paulo Braga. Autolesão na era da informação: abordagem sociológica acerca de uma subcultura juvenil contemporânea. 2015. 224f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de Pós-graduação em Sociologia, Fortaleza (CE), 2015. Disponível em: <http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/50069>. Acesso em: 26 de Mar de 2023

DINELLI, Alessandra.  Automutilação: Como se sentir melhor sem se machucar. Psicologia Viva, 2020. Disponível em:https://www.google.com/amp/s/blog.psicologiaviva.com.br/a-automutilacao/amp/

PINHEIRO, Thayse de Paula; WARMLING, Deise; COELHO, Elza Berger Salema. Caracterização das tentativas de suicídio e automutilações por adolescentes e adultos notificadas em Santa Catarina. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. v. 30, n. 4, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1679-49742021000400026>. ISSN 2237-9622. Acesso: 19 de Mar de 2023

MOREIRA, Érika de Sene et al. Automutilação em adolescentes: revisão integrativa da literatura. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v. 25, n. 10 , pp. 3945-3954. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.31362018>. ISSN 1678-4561. Acesso: 19 de Mar de 2023.

HOSPITAL SANTA MÔNICA, 2018. Automutilação: saiba como identificar e ajudar a pessoa! Disponível em: <https://hospitalsantamonica.com.br/automutilacao-saiba-como-identificar-e-ajudar-a-pessoa/>. Acesso em: 02 de mar de 2023

MOUTIER, Christine. Automutilação não suicida. Manual MSD Versão Saúde Para a Família, [S.I]. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/comportamento-suicida-e-automutila%C3%A7%C3%A3o/automutila%C3%A7%C3%A3o-n%C3%A3o-suicida>. Acesso em: 20 de mar de 2023

QUESADA, Andrea Amaro; et al. Cartilha para prevenção da Automutilação e do Suicídio: Orientações para educadores e profissionais da saúde. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 

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