Introdução
Pessoas que se lesionam para evitar a dor emocional,
obviamente estão passando por problemas muito sérios, podemos ver isso segundo
o site do Hospital Santa Mônica (2018), "a automutilação é vista como uma
válvula de escape nada saudável para indivíduos lidando com situações em que a
dor psicológica e emocional necessita ser aliviada de alguma forma."
Infelizmente, essas lesões feitas muitas vezes são de
difícil identificação. Muitas pessoas possuem táticas para esconder as
marcas, um exemplo é usar roupas longas como moletons ou mutilar lugares que
não são fáceis de serem vistos. Porém, existem indícios como o isolamento
social, impulsividade, irritabilidade, autocrítica exacerbada, transtorno
alimentar e pouca higiene pessoal.
De acordo com o Hospital Santa Mônica (2018) "A
automutilação é definida por lesões provocadas nos próprios tecidos do corpo de
forma deliberada, ou seja, propositalmente. A prática é mais comum entre jovens
e adolescentes, e geralmente se manifesta na puberdade e fase adulta."
Essas lesões podem ser feitas por cortes, mordidas, se bater em paredes,
queimaduras, beliscões e etc. A Automutilação pode ocorrer como sintoma de
transtornos como Autismo e Demência em idosos. Já para Moreira et al. (2020) a Automutilação
também pode ser quando a pessoa "salta de locais relativamente altos,
ingere fármacos em doses superiores as posologias terapêuticas, faz uso de
drogas ilícitas ou substâncias psicoativas com propósito de autoagressão e
ingestão de substâncias ou objetos não ingeríveis." Segundo Dinelli (2020)
"A automutilação pode ser uma maneira de lidar com os problemas. Pode
ajudá-lo(a) a expressar sentimentos que você não pode expressar em palavras,
distraí-lo(a) de sua vida ou liberar a dor emocional."
A Automutilação muitas vezes é o que as pessoas usam
para aliviar sentimentos como tristeza, auto aversão, sentimento de vazio,
culpa, raiva, frustração, tédio, inutilidade, desespero e desesperança.
Tipos
de Automutilação
Existem dois tipos de Automutilação: A automutilação
com pretensão final de suicídio e automutilação sem ideação suicida.
A Automutilação com ideação suicida: é quando a pessoa
realmente está em busca da morte, pois tem uma percepção de que isso resolverá
todos os problemas. Para saber a frequência das ideias de Automutilação com
ideação suicida, é necessário ver o histórico clínico de cada indivíduo, porque
dependendo dos meios utilizados pode ocorrer um maior potencial da pessoa
entrar em óbito. Conforme o Hospital Santa Mônica (2018), "os atos mais
comuns são enforcamento, envenenamento, jogar-se de grandes alturas ou
atirar-se na frente de veículos em alta velocidade."
A Automutilação sem ideação suicida: Aqui a pessoa se
automutila, mas não tem o propósito de cometer o ato suicida. Conforme o
Hospital Santa Mônica (2018) "As autoagressões mais comuns acontecem por
meio de cortes, queimaduras e arranhões na pele e mordidas na parte inferior da
boca ou membros superiores. Além disso, algumas pessoas têm o hábito de bater a
cabeça na parede ou esmurrar a si mesmas." Já de acordo com Christine
Moutier [S.I], mesmo que a pessoa não demonstre ideação suicida, devemos
observar, pois o tema é muito delicado e elas possuem uma propensão de cometer
o ato.
Esse tipo de
Automutilação é mais comum na adolescência e entre as meninas, também muito
comum em pessoas com transtornos como o Transtorno de Personalidade Limítrofe,
Transtorno de Personalidade Antissocial, Transtorno Alimentar, Transtorno
por uso de substâncias (como álcool, drogas ilícitas) e Transtorno do Espectro
Autista.
De qualquer forma, se a intenção é suicida ou não, é
nítido que o indivíduo que comete a Automutilação está passando por algum
problema muito grave e precisa de um acompanhamento adequado. Fatores como
sentimentos negativos, brigas familiares, depressão, ansiedade, bulimia,
anorexia, abuso na infância, bullying e outros, são situações que levam as
pessoas a se ferirem com o objetivo de aliviar o sofrimento que está sentindo.
O sofrimento pode até aliviar na hora, mas depois os sentimentos voltam e as
marcas físicas ficam.
Por
que tantas pessoas praticam a Automutilação?
Existe algum fator real que faz a Automutilação
aliviar a dor dos sentimentos? Sim, ao
cometer a autoagressão, o organismo libera endorfinas cerebrais (substâncias
consideradas analgésicos naturais) e produzem a sensação de prazer e alívio
temporário (HOSPITAL SANTA MÔNICA, 2018). Mas depois que essa sensação passa, tudo volta a se agravar, as vezes até piora o sentimento que já existia.
Como
ajudar?
O primeiro passo é criar um ambiente acolhedor, onde a
pessoa sentirá que não será julgada e mostrar a ela que a Automutilação não é a
melhor solução para se resolver os problemas e assim ela se sentirá mais segura e
confiantes para lidar com as situações do dia a dia.
Em concordância com o Hospital Santa Mônica (2018)
"uma grande aliada do tratamento é a terapia cognitivo-comportamental, que
permite identificar e tratar os motivos que levam a essa prática. Desse modo, o
apoio profissional auxilia a pessoa a ser capaz de descobrir alternativas
saudáveis para resolver suas perturbações. Dependendo do caso, medicamentos
também podem ajudar a diminuir ou cessar os episódios de autolesão."
De acordo com Christine Moutier [S.I], é importante
ressaltar que muitas pessoas que fazem a Automutilação não consideram a
situação um problema e evitam procurar ajuda especializada.
Como
é feito o diagnóstico?
Avaliação médica: o médico examinará o paciente com o
intuito de achar marcas que sejam sinais de Automutilação.
Ainda é possível o médico avaliar se a intenção do
paciente era de ideação suicida ou não, segundo Christiane Moutier [S.I]
"o médico avalia a intenção, os motivos e o humor da pessoa. É possível
que uma pessoa que realiza automutilação não suicida declare que deseja se automutilar
para obter alívio de sentimentos negativos em vez de declarar que tem vontade
de se matar. Ou ela pode usar repetidamente métodos que pouco provavelmente
resultariam em morte." Por isso, para ter um bom diagnóstico é preciso
conversar com familiares para saber como é o dia a dia do paciente.
O médico durante a consulta pode perguntar:
1. De
que modo a pessoa pratica a automutilação e de quantas maneiras diferentes ela
o faz (por exemplo, ela se queima ou se corta?)
2. Com
que frequência ela pratica a automutilação
3. Há
quanto tempo ela vem praticando a automutilação
4. Qual
é a finalidade de ela praticar a automutilação
5. Quão
disposta ela está de participar do tratamento
O médico também pode investigar se a pessoa possui
outros Transtornos Mentais e assim ver a probabilidade de ocorrer o suicídio.
Qual
o tratamento?
Psicoterapia para a Automutilação e para outros
Transtornos que a pessoa tiver. E medicamentos que forem prescritos.
Alguns tipos de psicoterapias são consideradas
melhores para o tratamento da Automutilação. São exemplos a Terapia
Comportamental Dialética e a Terapia de Regulação Emocional em Grupo
(CHRISTIANE MOUTIER, [S.I]).
Na terapia comportamental dialética se oferece sessões
semanais individuais e em grupo durante um ano, o terapeuta fica disponível 24
horas por dia por telefone. O objetivo é auxiliar a pessoa a lidar de melhor
maneira com o estresse.
Na terapia de regulação emocional, ocorre terapias de
14 semanas em grupo. Ela ajuda a pessoa a criar mais conscientização,
compreender e aceitar suas emoções. Esta terapia ajuda a pessoa a lidar com as
emoções negativas e entender que essas emoções fazem parte da vida e que
ninguém é feliz o tempo todo.
Não existe nenhum medicamento aprovado para o
tratamento da automutilação não suicida. Contudo, a naltrexona e alguns
medicamentos antipsicóticos atípicos demonstraram ser eficazes para algumas
pessoas (CHRISTIANE MOUTIER, [S.I]).
Dados
no Brasil
Segundo Pinheiro, Warmling e Coelho, (2021) "No
Brasil, a taxa de internação de indivíduos com nove anos ou mais de idade e que
tentaram suicídio, foi de 5,6 para cada 100 mil habitantes, entre 2000 e
2013. O VIVA-Inquérito - pesquisa de 2014, em serviços de saúde sentinelas
de urgência/emergência de capitais e municípios brasileiros, para levantar informações
sobre vítimas de violências - registrou 477 (9,5%) atendimentos decorrentes de
violências autoprovocadas, das quais 18 (2,9%) cometidas por crianças, 94
(18,8%) por adolescentes, 348 (74,6%) por adultos e 16 (3,7%) por
idosos. No Brasil, estudo de coorte com pessoas atendidas em ambulatório
de psiquiatria, publicado em 2016, revelou que, dos indivíduos com
comportamento de automutilação, 30% apresentavam idade inferior a 18 anos e 85%
eram do sexo feminino." Mesmo os dados de Automutilação serem inferiores a
10% isso se torna um fator preocupante, pois só 74,6% eram adultos e 21,7%
menores de 18 anos de acordo com o ano de 2014, em 2016 subiu 8,3% para menores
de 18 anos, ou seja, a Automutilação está com uma tendência a subir e por isso
deve ser um assunto de saúde pública ou vamos esperar subir mais 30% para ser
um fator de alerta e de observação? Sinais essas pessoas dão, mas muitas vezes
não observamos ou ignoramos. A Automutilação, como já foi mencionada, é um
fator preocupante para o suicídio mesmo que a intenção de início não seja essa.
Suponhamos, que uma pessoa se corta com facas e em algum momento acerta uma
artéria ou veia, se ela não tiver alguém próximo para socorrer ela irá a óbito.
Em adolescentes, a Automutilação está associada a problemas familiares e na escola, já nos
adultos, está associado com história de abuso na infância, transtornos de
ansiedade, transtorno depressivo maior, agressividade e impulsividade
(PINHEIRO, WARMLING e COELHO,2021). Podemos ver que a Automutilação está
associada a motivos de estresse e traumas que ocorreram ou ainda ocorrem na
vida dessas pessoas.
Método
Para Moreira et al. (2020) a Automutilação não é feita
somente nos braços e se for feita em outros locais do corpo isso indica que há
uma patologia muito séria envolvida. Com isso, os prováveis lugares para serem
feitos são partes do corpo que se pode cobrir com roupas.
Função
Segundo Moreira et al. (2020), "as funções da
automutilação mais adotadas pelos adolescentes são as de Reforço Automático
positivo (sentir alguma coisa, gerar sentimentos) e Reforço Automático Negativo
(regular emoções negativas, como raiva, angústia, medo)". Ou seja, aliviar
o sentimento ruim (reforço automático negativo) e gerar mais dor (reforço
automático positivo).
Fatores
de risco
Pertencer ao sexo feminino, abuso físico e sexual,
Bullying, consumo excessivo de álcool e drogas, término de relacionamento,
baixa qualidade de relacionamento com a mãe, falta de apoio familiar, conhecer
outra pessoa que se automutila, sono pobre, sintomas de impulsividade, baixa
autoestima, baixo nível socioeconômico, autocrítica, dificuldade de resolução
de problemas, não possuir identificação religiosa ou espiritual, baixa
escolaridade, possuir identidade alternativa, apresentar problemas com a lei e
dificuldade de expressar emoções (MOREIRA ET AL., 2020).
Ainda conforme Moreira et al. (2020), "alguns
estudos investigam a neurobiologia da automutilação. Um achado importante
indica que o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal dos adolescentes com
automutilação é hiporresponsivo, portanto, a secreção de cortisol é reduzida e
pode desempenhar fator de vulnerabilidade desses indivíduos no estresse
agudo."
A
influência das mídias sociais e a Automutilação
Assim como nossos livros, nossos veículos, nossas
cidades, a tecnologia digital, mais precisamente os ambientes de interação
eletrônicos, são partes de nossa cultura, são nossas mídias que ajudam a moldar
o modo como interagimos e pensamos (BAUDRILLARD, 1991; JOHNSON, 2001, apud
CAVALCANTE, 2015, p. 176). Sendo assim, podemos ter como exemplos contas do
twitter e Facebook que mostram histórias conturbadas que podem influenciar
outras pessoas a cometerem atos de Automutilação e de mostrarem sua dor. E
normalmente nessas contas, as pessoas tendem a contar histórias de violência
sofrida, isolamento, fim de relacionamentos e problemas familiares, e assim
encontram outras pessoas que passam o mesmo que elas ou encontram pessoas para
falar coisas mais negativas e piorar a situação emocional que já está
existente.
Por isso, para menores seria indicado que os pais ou
responsáveis sempre estivessem monitorando as redes sociais desses jovens. Para
adultos, o indicado seria diminuir o tempo nessas redes sociais e consumir
outros conteúdos que sejam mais construtivos.
Como
parar com a automutilação
1. Confie em alguém
Falar sobre si pode ser um ato muito difícil, por isso
escolha alguém confiável para pedir ajuda. Fale sobre seus sentimentos e porque
você está contando isso a ela, pode ser difícil para a pessoa digerir tudo que
está acontecendo, por isso dê tempo a ela.
2. Identifique seus gatilhos
Tente descobrir o que te leva a se automutilar, com
isso você poderá aprender métodos para lidar com a situação e não continuar se
automutilando. Se você não conseguir identificar você pode pedir ajuda para
alguém de sua confiança.
3. Encontre novas técnicas de enfrentamento
Se você vai parar, você precisa ter formas
alternativas de enfrentamento para reagir de maneira diferente quando estiver
com vontade de se cortar ou se machucar.
Se você se machuca para expressar dor e emoções
intensas, você pode:
· Pintar;
· Desenhar
ou rabiscar em um grande pedaço de papel com tinta vermelha;
· Escrever
em um diário para expressar seus sentimentos;
· Compor
um poema ou uma canção para dizer o que sente;
· Anotar
qualquer sentimento negativo e depois rasgar o papel;
· Ouvir
uma música.
Se você se machuca para acalmar ou aliviar-se a si
mesmo, você pode:
· Tomar
um banho frio ou um banho quente;
· Abraçar
um pet, ou ursinho de pelúcia;
· Usar
um cobertor quente;
· Massagear
seu pescoço, mãos e pés;
· Ouvir
uma música calma;
· Meditar.
Se você se machuca porque se sente desconectado(a) ou
entorpecido(a), você pode:
· Ligar
para um amigo (você não precisa falar sobre a automutilação);
· Tomar
um banho frio;
· Segurar
um cubo de gelo na dobra do seu braço ou perna;
· Mastigar
algo com um sabor muito forte, como pimenta, hortelã, gengibre ou uma casca de
laranja;
Se você se machuca para liberar a tensão ou a raiva,
você pode:
· Correr;
· Dançar;
· Pular
corda ou bater em um saco de pancadas;
· Gritar
em uma almofada ou colchão ou gritar em seu travesseiro;
· Rasgar
algo (folhas de papel, uma revista);
· Fazer
algum barulho (toque um instrumento, bata em panelas e frigideiras).
Como
ajudar uma pessoa que está se automutilando
Para poder ajudar é importante saber fazer 3 coisas
básicas: saber perguntar, saber como perguntar e saber em que momento
perguntar. Mas é muito importante não mencionar nenhum método de suicídio.
Também é muito importante saber o nível de risco (baixo, médio ou alto).
Referências:
CAVALCANTE, João Paulo Braga. Autolesão na era da
informação: abordagem sociológica acerca de uma subcultura juvenil
contemporânea. 2015. 224f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará,
Centro de Humanidades, Programa de Pós-graduação em Sociologia, Fortaleza (CE),
2015. Disponível em: <http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/50069>.
Acesso em: 26 de Mar de 2023
DINELLI, Alessandra.
Automutilação: Como se sentir melhor sem se machucar. Psicologia Viva,
2020. Disponível
em:https://www.google.com/amp/s/blog.psicologiaviva.com.br/a-automutilacao/amp/
PINHEIRO, Thayse de Paula; WARMLING, Deise; COELHO,
Elza Berger Salema. Caracterização das tentativas de suicídio e automutilações
por adolescentes e adultos notificadas em Santa Catarina. Epidemiologia e
Serviços de Saúde [online]. v. 30, n. 4, 2021. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S1679-49742021000400026>. ISSN 2237-9622.
Acesso: 19 de Mar de 2023
MOREIRA, Érika de Sene et al. Automutilação em
adolescentes: revisão integrativa da literatura. Ciência & Saúde Coletiva
[online]. v. 25, n. 10 , pp. 3945-3954. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.31362018>. ISSN 1678-4561.
Acesso: 19 de Mar de 2023.
HOSPITAL SANTA MÔNICA, 2018. Automutilação: saiba como
identificar e ajudar a pessoa! Disponível em:
<https://hospitalsantamonica.com.br/automutilacao-saiba-como-identificar-e-ajudar-a-pessoa/>.
Acesso em: 02 de mar de 2023
MOUTIER, Christine. Automutilação não suicida.
Manual MSD Versão Saúde Para a Família, [S.I]. Disponível em:
<https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/comportamento-suicida-e-automutila%C3%A7%C3%A3o/automutila%C3%A7%C3%A3o-n%C3%A3o-suicida>.
Acesso em: 20 de mar de 2023
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